Mar 21

Embora tenha que trabalhar mesmo após aposentadoria para completar renda, Ana Oliveira, 51 anos, continua como empacotadeira em Jundiaí

Apesar do empenho nas gráficas da região de Jundiaí, por onde passou nos últimos 28 anos, iniciado desde jovem, a profissional aposentada Ana Amália de Oliveira, 51 anos, não conseguiu nenhuma promoção ao longo da sua carreira, mesmo tendo se dedicado tanto ao trabalho de modo que não constituiu nenhuma família. Desde que iniciou em gráfica, já passou por várias empresas, mas sempre como empacotadeira no setor de Acabamento. Função esta que continua atuando mesmo depois da aposentadoria, pois precisa ficar na ativa para complementar o baixo valor do direito previdenciário - situação que ocorre com muitos outros. Ainda assim, Temer e políticos aliados querem que os trabalhadores fiquem na ativa por mais tempo para só depois liberar a aposentadoria.

"Temer está fazendo tudo de ruim no Brasil. Uma dessas maldades é a reforma da Previdência (proposta do governo, apoiadas por deputados federais e senadores, para aumentar a idade e o tempo de contribuição da trabalhadora ao INSS para conceder a aposentadoria)", fala Ana. Ela, apesar de ser uma pessoa muito tímida e morar sozinha, não esconde a sua insatisfação a este governo e aos políticos que querem tirar o pouco que o trabalhador tem, como o ataque ao direito do pobre se aposentar.

A aposentadoria hoje já não é essas grandes coisas, basta observar a baixa remuneração, a grande maioria receber só um salário mínimo. Por isso que muitos trabalhadores continuam na ativa mesmo aposentados, a exemplo de Ana, que continua firme na gráfica Boca Boa, em Jundiaí. Já são sete anos que ela trabalha na empresa. Antes, laborou na Polo (10 anos), HP (4 anos) e Gráfica Horizonte (7). Sempre empacotadeira.

Embora tenha que continuar trabalhando, Ana não desanima. Ela acha que valeu à pena tudo que fez e sua escolha. E que não pretende deixar o trabalho. Porém, teme problemas de saúde, única situação que Ana considera que pode retirá-la da atividade profissional, a qual ela revela já ter tido chance de mudar para outra, como escritório, mas recusou. "O serviço gráfico é bom e gostoso, vale à pena e o salário não é tão ruim em comparação com outras atividades", destaca a aposentada na ativa.

Ana é uma das gráficas já aposentadas desta região que está sendo homenageada pelo Sindicato da categoria (STIG Jundiaí) durante este mês do Dia Internacional das Mulheres. Ela aproveitou para deixar um conselho para as novas trabalhadoras do ramo: embora seja um bom serviço e ter uma remuneração um pouco diferenciada das demais, as mulheres precisam se preocupar com a saúde, pois é um serviço de esforço físico e bem repetitivo e braçal no caso do setor de Acabamento.

"Parabéns Ana por ter conseguido chegar a sua aposentadoria, cada vez mais difícil diante da prática usual que a partir de uma certa idade as mulheres são descartadas pela empresa, desconsiderando o empenho da profissional no decorrer dos anos e o comprometido verificado", diz Leandro Del Roy, presidente da Federação Paulista dos Trabalhadores Gráficos (Ftigesp). Este processo injustos dos padrões corre risco de se tornar institucionalizado caso seja aprovada a reforma previdenciária de Temer e seus políticos aliados, se forem reeleitos nas eleições desse ano. A reforma aumenta a idade e o tempo de contribuição, ampliando ainda mais a dificuldade das profissionais conseguirem a aposentadoria, principalmente agora com a retrograda nova lei do trabalho já aprovada.

written by FTIGESP