Jul 12
Em busca do equilíbrio casa/trabalho, mulheres buscam atividades em meio-período e optam cada vez mais pelo empreendedorismo.
Romper com o estereótipo de poder da figura masculina e conciliar maternidade e carreira são os principais fatores que impedem as mulheres de assumir cada vez mais postos de liderança. Além disso, por serem consideradas o elo frágil na cadeia do trabalho, são, geralmente, as primeiras a serem demitidas quando o cerco aperta, como aconteceu com a crise econômica iniciada em 2008. Essas são as explicações para que a participação de mulheres em posição de chefia tenha caído de 24%, em 2010, para 20% em 2011, segundo o relatório Grant Thornton International Business Report (IBR).
De acordo com a pesquisa, a crise econômica fez com que as empresas repensassem toda a sua de gerência. E muitas preferiram voltar a um modelo tido como “seguro”, no qual os homens ocupam mais posições de liderança.
“Além disso, não podemos ignorar que o estereótipo de gênero ainda existe. Homens e mulheres ainda não recebem o mesmo salário para as mesmas funções e, em todo o mundo, elas ainda são vistas como as responsáveis pelos cuidados primários das crianças”, relata a pesquisa. No Brasil, a porcentagem de mulheres em postos de comando baixou de 29% em 2010, para 24%. Em 2007, o percentual era de 42%, o segundo lugar no ranking mundial.
Dados do Corporate Gender Gap 2010, contudo, indicam que dentre as grandes empresas localizadas no Brasil, 11% delas contavam com mulheres nos cargos de CEO. Nesse relatório, o cenário brasileiro aponta que, apesar de as mulheres brasileiras possuírem boas condições de saúde e acesso à educação (1° lugar no ranking), a participação no mercado de trabalho (76º em 134 nações) e as oportunidades econômicas (75º em 134 nações) ainda estão longe da igualdade.
Para Marina Araújo, uma das autoras da pesquisa “Expectativas e realidades: a relação do gênero feminino com as pressões institucionais ao longo da carreira profissional”, da Fundação Dom Cabral, mulheres que alcançam altos cargos executivos tendem a assumir as características, valores e comportamentos ditos masculinos em uma organização, como trabalhar muitas horas em detrimento de ficar em casa.
Na balança
“Mas, há um movimento das mulheres de busca pelo equilíbrio. Elas não querem se desapegar tanto da família, o que é o principal conflito de sua vida. Se, por um lado, a empresa exige que essa mulher dedique-se ao máximo, por outro, há os filhos e o marido que também demandam a mesma atenção”, explica.
Segundo a pesquisa do IRB, muitas organizações não dão flexibilidade para as mães que trabalham. “As mulheres que voltam para o mercado de trabalho depois de terem filhos precisam de uma situação em que possam acomodar sua nova responsabilidade. É por isso que vemos muitas mulheres abrirem seu próprio negócio, tornarem-se consultoras independentes ou buscarem trabalhos de meio-período”, diz o estudo.
Dona de seu nariz
Ter o seu próprio negócio foi a opção de Luciana Miquelini Leoni, que deixou a gerência de produtos de uma grande empresa de cosméticos para ter mais tempo para a família. “Por mais que exista um discurso de qualidade de vida, o desempenho está intimamente atrelado ao número de horas trabalhadas dentro da companhia. O expediente terminava às 17h30, mas a própria liderança marcava reuniões para as 18h. Não existe a menor consideração da empresa pelo fato de você ser mãe”, afirma ela, que hoje tem uma loja online de produtos orgânicos.
Luciana é uma em um universo cada vez maior de mulheres empreendedoras. Segundo o Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), a participação das mulheres na condução de empresas já se equiparou a dos homens. A pesquisa Global Entrepreneuriship Monitor (GEM) de 2010 aponta que dos 21,1 milhões de empreendedores no país 50,7% são homens e 49,3%, mulheres.
“A mulher hoje empreende mais por oportunidade do que por necessidade. Um dos motivos é que ela é mais escolarizada, busca mais informações, tem mais persistência e persuasão na rede de contatos”, afirma Bruno Caetano, diretor-superintendente do Sebrae-SP.
Mais escolarizadas
A alta escolaridade é, para Marina Araújo, da FDC, o grande trunfo das mulheres que ocuparão, no futuro, a maioria dos cargos de liderança. “Acho que falta paciência para a sociedade. As mulheres que hoje têm 20 anos vão pegar um cenário diferente quando chegarem aos 40, 50 anos, que é a época em que atingem a maturidade profissional para estarem em posições de comando. A porcentagem de mulheres para programas de trainees tem aumentado”, explica.
O último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 17,1% das profissionais têm Ensino Superior completo. Em 2000, esse percentual era de 12,9%. Entre os homens, apenas 13% apresentam nível superior completo, embora tenha havido um avanço frente aos 10,8% registrados no início da década passada. Maria Carolina Nomura, iG São Paulo | 12/07/2011 05:58

written by FTIGESP