Abr 13
Já pensou em um lar onde o homem fica em casa enquanto a mulher sai para o trabalho e ao laser? E este mesmo homem sempre fica como o responsável pelos afazeres domésticos, cuidando e preparando tudo para quando a mulher chegar em casa. E ao chegar, a mulher não reconhece o trabalho, reclama com ele e chega a agredi-lo? Pois é, tal realidade é bastante comum a muitas mulheres, mesmo sendo elas trabalhadoras na rua e em casa, acumulando jornadas de trabalho ao dia. Esta questão da carga extra de trabalho e da violência doméstica, sofrida pela mulher, foram retratas, de forma inversa, em um filme exibido no bingo das trabalhadoras associadas ao Sindigráficos. Era o homem quem sofria esta perversa realidade da atual cultura machista

Cerca de 70 profissionais gráficas de empresas de Jundiaí/SP e cidades vizinhas participaram no último domingo de março, mês das Mulheres, do tradicional Bingo das Trabalhadoras da Classe, promovido pelo órgão da classe (Sindigráficos), e realizado, pela primeira vez, pelo Comitê das Mulheres da entidade, que completou o primeiro ano de existência.

Além das ações voltadas ao lazer das participantes, que premiou diversas das sindicalizadas, a atividade contou com alguns momentos de formação e de conscientização delas sobre direitos da mulher diante de uma cultura social ainda machista.

A apresentação do filme "Acorda Raimundo Acorda", por uma das palestrantes, foi o ponto auge do evento, que retratou, de forma inversa, a violência sofrida pela mulher no cotidiano. A criação do Conselho da Mulher pela prefeitura de Jundiaí, bem como a sanção da Lei do Feminicídio, que endureceu as penas para o homem que comete crime por gestão de gênero, também foi pautado no evento.

"O tema do feminicidio será inclusive o assunto do primeiro encontro de formação das trabalhadoras gráficas na área de abrangência do Comitê das Mulheres do Sindigráficos", antecipa a coordenadora do Coletivo, Valéria Simionatto.

Voltando ao Bingo, a animação tomou conta da mulherada no salão da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Jundiaí, local onde elas dançaram e cantaram muito ao som da Grupo de Samba Estou 100 Rumo, formado só por trabalhadores gráficos da região. Tudo foi regado ao bom churrasco e bebida. Tudo foi gratuito, já que as participantes são todas sindicalizadas e merecem muito mais.

Antes disso, a atração foi o tradicional bingo, que concentrou a atenção delas. Focadas na possibilidade de ganhar os prêmios, oferecidos pelo Sindigráficos, houve até torcida organizada para as ganhadoras dos prêmios. Ecoavam o nome das empresas em referência as vencedoras.

O presidente do Sindigráficos, Leandro Rodrigues, aproveitou o evento para realçar a importância da sindicalização voltada ao fortalecimento das próprias trabalhadoras, em defesa dos direitos específicos delas.

Dentre eles, o dirigente lembrou da nova cláusula na Convenção Coletiva de Trabalho da Categoria que concede quase R$ 5 mil anual para as funcionárias com filhos de 3 anos de idade. O direito agora vale para quem tem filhos de 3 anos, antes era até 2.

Todavia, mesmo assim, o dirigente lembrou que, este ano, o bingo teve uma presença menor de participantes devido a crise no setor, que causou o fechamento de uma importante empresa na região, a gráfica Acrescente, além da redução no número de trabalhadoras em outras. Porém, ele lembrou que uma grande empresa está chegando à região, a Gonçalves, que absorverá, certamente, muitas dessas profissionais.

O presidente da Federação dos Trabalhadores Gráficos do Estado de São Paulo, Leonardo Del Roy, também prestigiou o evento. O dirigente já foi presidente do Sindigráficos de Jundiaí na década de 1970, e disse que não poderia abandonar a sua história, por isso garantiu participação na atividade.

Ele aproveitou para lembrar às participantes de que não haverá condição melhor de vida e trabalho se elas não permanecerem junto ao sindicato, bem como não convidarem mais trabalhadoras para se somar à luta.

"O sindicato é a única instância que pode melhorar a vida de cada uma", disse ele, lembrando que as trabalhadoras precisam por fim a cultura do silêncio, em alusão a problemas comuns dentro das empresas, a exemplo das doenças por esforço repetitivo (LER/Dort). Estas que são agravadas por condições inadequadas do maquinário e das bancadas de acabamento. O universo de trabalhadoras que podem estar sofrendo com este tipo de doença é alto e chama muita a atenção.

"Infelizmente, outro problema constante e crescente entre as mulheres, são as doenças relacionadas às questões psicológicas em decorrências da pressão dos patrões ou chefes por maior produtividade, ou seja, isso se chama assédio moral", conta Rodrigues.

Dentro desse contexto, a fim de amenizar os problemas na vida das profissionais, o Sindigráficos, que é filiado à Central Única dos Trabalhadores, oferece o serviço gratuito de acompanhamento psicológico para tratar esta questão.

O dirigente aproveita para agradecer a participação das trabalhadoras no bingo e antecipa que, em conjunto com o Comitê das Mulheres do sindicato, já planeja mudanças na atividade do próximo ano, visando qualificar ainda mais a vida de cada uma das trabalhadoras sindicalizadas da entidade.

FONTE: STIG JUNDIAÍ 

written by FTIGESP